A UTOPIA DAS OSSADAS
O DOU publicou uma portaria do MD, atribuindo ao Exército, com o uso da ciência e da tecnologia, a responsabilidade de localizar e identificar possíveis ossadas de militares e guerrilheiros mortos na região do Araguaia no período 72-74.
Inúmeras “expedições e buscas”, com recursos da União (diga-se do contribuinte), foram sempre acompanhadas e publicadas com destaque pela imprensa. Declarações bombásticas e de efeito por parte de seus idealizadores e organizadores ao longo dos anos, em especial a partir de 03, com resultados pífios, inócuos e constrangedores, levaram os seus responsáveis, invariavelmente, ao silêncio e ao constrangimento, pois o foco central das pesquisas e das investigações conduzia a um planejamento inadequado e, conseqüentemente, a resultados desastrosos.
Como dessa vez os trabalhos serão coordenados pelo Comandante do Exército, muda-se o foco da ação. Se os resultados forem inexpressivos e não atenderem aos interesses do governo, de imediato alguém será responsabilizado ou, pelo menos, criticado pelo fato de não ter a missão sido cumprida a contento, criando-se um “bode expiatório”. Com isso, o governo explorará os resultados e o MD lavará as mãos, com reflexos na coesão e no moral da Instituição Exército.
Sou extremamente cético quanto aos resultados. Como o Brasil é um país pródigo em farsas, que fazem parte de nossa cultura, mais uma vez estamos diante de outra farsa que poderá se transformar em uma grande fraude.
As buscas anteriores se revelaram desalentadoras, não apenas pela incompetência daqueles que sonhavam com o estrelato, mas pela inexistência ou pela precariedade de dados com conteúdo significativo que contribuissem pro sucesso das ações, e não pra revelar o que o governo, o MJ e o seu CDDH gostariam que fosse revelado.
A falta de objetividade permeou as investigações anteriores. O foco do problema ou da solução não está disponível pro Exército ou pra outro órgão oficial. O Centro de Informações do Exército, atual Centro de Inteligência do Exército, somente detetou a área onde se desenvolveria a guerrilha em Mar 72, enquanto que os “guerrilheiros”, a maioria jovens e alguns menores de idade, eram conduzidos clandestinamente pra região desde Dez 67, de onde não mais ausentariam-se por determinação partidária. Ou seja, o mobiliar da área antecipou-se por mais de 4 (quatro) anos ao início das operações, quando já estavam excepcionalmente adaptados aos rigores da selva e do clima e já realizavam algum trabalho social que os aproximava dos humildes habitantes da área.
Nesse cenário, atrevo-me a antecipar resultados inexpressivos, com recursos pagos pelo cidadão comum, embora com grande repercussão na mídia, tomando-se como base o alarido das pesquisas e das comissões e/ou grupos de trabalho do passado; a predisposição de profissionais despreparados em desprezar o bom senso e maquiar a verdade; a predisposição em encontrar não o que o mundo real e honesto mostra, pois este abalaria convicções, mas o que ele ideologicamente aceita como verdade; a inconsistência de documentos que permitem fraudar decisões e justificar concessões, em especial quando envolve o pagamento de indenizações; etc.
Atrevo-me, ainda, a acrescentar outras considerações, que dificultarão sobremaneira as buscas e, conseqüentemente, os trabalhos da comissão:
- a) significativas mudanças nas características fisiográficas da região após mais de 37 (trinta sete) anos do início do desmantelamento da guerrilha;
- b) dificuldades de locomoção, em face das características climáticas da região, que exige preparo físico e um razoável período de adaptação;
- c) alagamento de áreas expressivas durante o período das cheias, com reflexos na topografia da região, na configuração do terreno e na circulação de pessoas, bens e mercadorias;
- d) inexpressiva quantidade de remanescentes do período 72/74;
- e) abandono e miséria em que ainda vive uma parcela da população da área;
- f) desinteresse de “ex-guerrilheiros”, militantes do PT, de participar e de colaborar com as buscas.
Assim, o foco, pra melhor encaminhamento do problema, deverá ser descolado do Exército e de toda e qualquer comissão, e deslocado pro P C do B, organização responsável pelo aliciamento desses jovens, que serviriam de meros instrumentos de “trabalho”, enquanto que a maioria dos seus dirigentes permanecia nas áreas urbanas e alguns viajavam pro exterior com as despesas pagas.
A guerrilha só se instalou porque os velhos caciques do partido na época, verdadeiros profissionais do terrorismo e da subversão, financiados inicialmente pela China e posteriormente pela miserável Albânia, não hesitaram em instruir, doutrinar e recrutar jovens pro Araguaia. Retirou-os do seio de suas famílias; colocou uma arma em suas mãos; levou-os à clandestinidade; selecionou os mais aptos ideologicamente e fisicamente; convenceu-os a realizar uma relevante tarefa pro partido em uma região afastada, inóspita e insalubre; fanatizou-os e induziu-os a resistir até a morte. Não é por acaso, ou mera coincidência, que os sobreviventes da guerrilha, os que foram presos e os que, pacificamente, se entregaram, abandonaram o P C do B e militam no PT desde a sua criação.
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